terça-feira, 26 de julho de 2011

Vivencias de um Pé de Jabuticabas


Com Açúcar e Com Afeto 
Vivencias de um Pé de Jabuticabas
(Geléia de Jabuticaba)



Época de Férias...
De casa da Vó Constança...
Tempo de jabuticaba... De Geléia...
De ouvir e imaginar muitas Histórias.
A criançada chegava correndo feito bando de andorinhas...


-A Brasília garrou no atoleiro perto boqueirão...
-A mãe ta toda elaminada com o Fernando nos braços.
E lá se vai o tio Tamiro com a junta de bois puxar o carro.
Quando finalmente estiava. As jabuticabas já estavam no ponto.


A avó e os netos subiam no pé de jabuticaba.
Chupavam muitas...
Riam muito...
Mais riam do que chupavam...


Ela contava histórias de assombração...
De escravos que arrastavam correntes...
Dizia que criança que mexe com fogo mija na cama.
-E mija mesmo... Disto eu sou testemunha.


Dizia pra gente não andar perto da terra de arroz...
Dentro da propriedade do senhor Modesto.
Porque ele tinha parte com o coisa ruim.
E estava chocando um filhote de baixo do sovaco.


A gente ia escondido na esperança de ver...
Um dia fui pescar escondido e quase fui mordida por uma cascavel.
Mas dei um pulo de banda e raspei a cabeça da bicha.
Fiz o sinal da cruz e sai correndo.
Devia ser um dos guardas do capeta.


E claro que não falei nada.
Minha vó também gostava do pé de marmelo apesar
dele não dar muito fruto.


De tardinha escolhia as jabuticabas,
lavava, espremia, coava na pereira de palha.
Colocava no tacho de cobre antes lavado com limão e sal, pra tirar o sinabre.
Colocava açúcar e fervia.
Mexia e era só uma questão de tempo.
Enquanto esperava pegar o ponto.


Enquanto isto ela cantava lindas canções.
As minhas preferidas eram estas:


Ai eu entrei na roda... Eu entrei na roda dança
Eu não sei como se dança... Eu não sei dançar
Sete e sete são quatorze... Com mais sete vinte-e-um
Tenho sete namorados
E não gosto de nenhum.
* * *
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Só pra ver
Só pro meu amor passar


Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração


Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Tu roubaste
Tu roubaste o meu também
Se eu roubei
Se eu roubei teu coração
Foi porque
Só porque te quero bem.


Hoje não existem mais pés de jabuticabas e o tacho de cobre furou...
Quando a saudade dói e eu quero me lembrar de você vó.
Às vezes me arisco a fazer a geléia...
Nunca vai sair como a sua.
Eu não sei como cantar as canções como você cantava,
Não sei falar de mula sem cabeça com tanta propriedade...
Não sei como se pega um saci.
Mas quando o doce fica pronto...
Eu consigo sentir na boca o paladar do seu doce.
Como se você estivesse ali do meu lado.


Beijos de sua neta que morre de saudades...
Mas um dia vai te encontrar...
Em algum tempo...
Em algum lugar...

Obrigada à equipe do programa, porque através desta história em consegui reencontrar com minha avó.
No tempo da escrita, através das lembranças...
No lugar do coração...
Hoje aqui em casa ainda resta um pé de jabuticaba filhote do da fazenda.

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